Um dia antes do amanhã, depois de tantos
- Marcos Nicolini
- Apr 8, 2023
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Dia escuro e longo.
Silêncio...
O que fizemos de nós?
Quais decisões entendemos que houve?
O que delas redundou?
Dia da dúvida e do aguardo.
Dia de recolhimento secreto,
no encontro angustiado de amigos
sem palavras,
sem ações.
Gestos simplificados;
movimentos comedidos;
circunspecção.
O dia ensolarado:
nas ruas o movimento febril;
vendem-se e compram-se;
casam-se e dão-se em casamento;
ajoelham-se a Cesar e a Mamon.
Klerós e Laikós teatralizam embates;
hairetikós e hairetikós digladiam em detalhes infinitos,
repetições lógicas que permutam surdez.
Sacrifícios são requeridos, apresentados, multiplicados.
Os dízimos são pagos
e tributos são pagos: ritualmente.
A religião presta tributo ao imperium que se funda na religião.
Diante do espelho não há éthos,
apenas a lei como necessidade.
Dentro da cidade, num lugar à parte, contudo,
à meia boca,
krypto-esotériokós,
amigos rememoram,
re-contam as palavras que aquecem o coração,
entre si
as narrativas sublimes.
incontíveis em tantos livros nunca escritos.
Confrontam:
ao materialismo a fé;
ao niilismo a esperança;
ao monismo o amor.
Para o encontro e o acontecimento não há cálculo possível.
No kairós da espera dá-se ao outro antevisto.
No tempo propício do silêncio há o cultivo da metanóia.



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