Tiranicídio

Tentaram um tiranicídio dos tempos modernos. Não como na Revolução francesa, cortando, fisicamente, a cabeça do monstro. Mas, de modo apocalíptico: prendendo Satanás no abismo e desnudando-o de tal modo que lhe fosse impossível sair dali com vida, isto é, com alguma reputação, com direito à fala, com credibilidade para conduzir a população ao inferno, para arrastar as estrelas dos céus.

Não contavam com a astúcia do inferno e uma Besta emergiu do mar, falando como se fosse o oposto de sua contraparte, operando milagres e ressuscitando após verter o sangue. O mar, a multidão das pessoas, a população fez emergir a Besta populista, filhote Anti-Cristo. Como aquele do qual é Anti, também este carregava uma marca de seu sacrifício pelo Bem. Mentiu, como lhe é natural, não sobre a marca, o sangue e a emergência, mas sobre o Bem e a divisão do inferno. O inferno é UM, muito astutamente se faz plural e seu sentido é a guerra, a fome, a peste e a morte.

Assim, os Falsos Profetas, os quais falam em nome do Tirano, por hora preso, vendo o que o falastrão populista fazia e marchava sobre as grades que retinham, munidos da mentira, a arma única das trevas, fingiram a divisão e a des-UM-ião. Sacrificaram o que deve ser sacrificado em nome do Bem Maior: venha o inferna à terra assim como ele é nos lugares sagrados. Simularam guerra, soltaram Satanás e o conduziram ao lugar de fala da mentira, e enganaram a todos. O que era vergonhoso se tornou honrável.

Assim como um abismo chama outro abismo, o tiranicídio chama a volta da tirania. O tirano, em retorno, profere blasfêmias e mentiras, conclama o ódio e promove a violência. O tirano planta a discórdia e o conflito, no lugar de sementes de paz planta sal sobre a terra, tornando-a estéril e vazia. Ai das duas testemunhas que ousam proferir o nome desta trindade do Mal!