Sociedade em Rede-Neural
- Marcos Nicolini
- Mar 12, 2023
- 4 min read
Imagina...
Uma rede do tipo neural,
Com elementos que se relacionam com outros elementos desta mesma rede: pontos relacionais.
A rede é dada pelos relacionamentos entre seus pontos, seus elementos relacionais.
Uma rede finita, contudo, aberta e mutante, na qual aprecem, mudam e desaparecem elementos.
Cada elemento se relaciona com um ou mais elementos.
Tais relacionamentos têm alguma continuidade tempo, mas encontrarão sua descontinuidade no futuro.

A rede é biológica, isto é, bios como vida enquanto relacional e a possibilidade de dela nos referirmos, sua logia, é dada nesta vitalidade de relacionamentos precários e contingentes.
Não há a necessidade da rede, mas é necessário para que a rede exista que seja biológica.
A continuidade e descontinuidade de um relacionamento se deve não apenas às motivações destes relacionamentos, e das forças que o compõem e decompõem, como da continuidade e da descontinuidade dos próprios elementos na rede.
Cada elemento é, metaforicamente dizendo, um centro magnetizado e grave, cujas forças magnéticas e massas não são iguais nem entre os elementos e nem mesmo num único elemento ao longo do tempo.
Cada elemento atrai e repulsa outros elementos, tendo em vista a igualdade e a desigualdade de seus polos magnéticos em proximidade.
A “lei” da finitude dos recursos e da inifinitude dos desejos torna esta proximidade/distância e a igualdade/diferença num modo de tensão na rede.
Cada elemento deforma o espaço-tempo, orbitanto e fazendo orbitar.
Cada elemento opera tendo em vista sua sobrevivência e identidade, realizando imunizações e eliminando micro-partes nocivas, assim como absorve ou é absorvida por elementos comunitários: com similar imunidade.
Os elementos produzem e requerem riquezas, valores, bens, entre outras coisas.
Portanto, repulsa, atração, orbitação, absorção e expurgo se dão em torno da carência e abundância dos produtos demandados pelos elementos em relação uns com os outros e a disposição de realizar trocas: não necessariamente mercantis.
Uma vez gerados, os elementos requerem produtos gerados externamente a si e oferecem outros recursos.
Cada elemento macro-cósmico é formado por elementos micro-cósmicos, os quais são formados por elementos nano-cósmicos e assim por diante.
Não! Não são apenas três níveis: macro, micro e nano.
Mas um agregado semi-descontínuo de complexidade, que varia da maior complexidade à menor complexidade.
Não haveria um caminho necessário da menor complexidade para a maior complexidade, mas a satisfação da rede elementar com os valores e riquezas que ela julga satisfazer suas demandas: valores, bens, demandas, etc.
Os níveis da rede poderiam nos fazer lembrar uma Cadeia do Ser do tipo Neoplatônica, se não fossem as diferenças marcadas pela descontinuidade, precariedade e mutabilidade.
Contudo, dentro de uma rede complexa, diríamos que a existência de elementos simplex é mais efêmera, mais instantânea.
Conquanto, a existência dos elementos mais complexos também é marcada pelo transitório, pela precariedade e vulnerabilidade.
Esta Gestalt bastante frágil, incompleta e contraditória me veio à mente quando lia o texto de Geroge Simmel Religião. Neste momento lembrei-me dos textos: de Michel Foucaul Microfícica do Poder, a teoria dos sistemas de Luhmann, de Eduardo Marques Redes Sociais, assim como algumas incursões em cibernética e redes neurais em I.A. e por último, mas não por fim, Paul Tillich Coragem de Ser.
Percebo que a “Sociedade” é esta rede relacional, que hora se apresenta do modo simples no paleolítico e que se complexifica nas sociedades contemporâneas. A sociedade não existe a não ser como relacionamentos de elementos simples como dois humanos, ou de um humano com uma coisa, ou de grupos que estabelecem relacionamentos com outros grupos, e assim por diante. Esta é uma possibilidade de perceber esta hiper-macro-rede.
Outra é que o Governo, que é o corpo material que se apresenta como agente desta potência fantasmagórica e ficcional que chamamos de Estado, é apenas um elemento relacional desta rede, cujo magnetismo e gravidade são produzidos por grupos que pretendem exercer dominação hegemônica sobre os demais elementos da rede. Para isto eles sequestram, apropriam-se de recursos enormes dos demais elementos a fim de produzirem legitimação e justificação para esta violência macro-cósmica. Com o discurso que defende sua existência como o agente de ordenamento das relações da rede e de produção de justiça, ou bem-estar, ou seja lá o que for, este elemento da rede se pretende colocar como buraco negro intergaláctico que com sua gravidade e influência magnética, impede a fragmentação e a centrifugação deste cosmos.
Uma terceira possibilidade de leitura é que, caminhando com Simmel e Tillich, a religião/Deus é o não elemento que perpassa toda a rede de elementos relacionais e que confere sentido a toda rede. Não confundir religião com Religião. A Religião é um elemento da rede, algo que visa existir e persistir por meio de magnetismo e gravidade, combatendo elementos que se apropriam de recursos e demandas da Religião e expandindo sua presença a fim de colocar-se como centro organizador da rede. Enquanto religião é a doadora de sentido e que oferece a cada elemento sua posição na rede.
Uma quarta está dada pelo conflito entre Estado e religião. Este não é um conflito entre Razão e obscurantismo. O Estado é a ficção produzida no interior da rede cujo objetivo (telos) é suprimir a religião em sua transcendência e apresentar-se como transcendental. O Estado é o todo trágico. Assim, o Estado por meio do Governo substitui o sentido pela Lei e a lei como a inexorabilidade dada por uma rede existente como se fosse a única possível. O Estado fecha a rede na possibilidade única de existência dos elementos que agora estão subsumidos pela necessidade dada como Lei.
Por fim, este Estado não é um organismo, um monstro, um Leviatã, mas um dispositivo cibernético que funciona como modelagem e modelamento, com algoritmos precisos e que, como um vírus cibernético, quer penetrar em cada elemento da rede e lhe informar o modus operandi mais adequado. Este é um Estado Baconiano que está imbricado com a máxima racionalidade burocrática (lembrando Weber).
Isto é apenas uma Gestalt, portanto, carece de crítica e análise de viabilidade. Mas é assim que funciona a especulação.



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