Os pastores se deixaram guiar pela estrela.

Talvez “silêncio” seja a palavra que expressa a melhor conduta de reverência e ato que busca traduzir a honra a quem devemos ainda mais, quando esta, supostamente, fez silêncio.

Mas não há verdadeiro silencio quando a memória aflora como numa presença tal como se cada lembrança se desse como estrelas em noite de lua nova num olhar para cima em meio ao Atacama: vastidão inumerável de relatos belos, coloridos, intensos, pulsantes e feitos novidades móveis.

A lua está ali, embora obscurecida.

O silêncio daqueles lábios não retém a sinfonia de afetos que afloram e que se dão a ouvir solenemente, harmoniosamente.

Aquietar-me, então, e deixar me afetar ao som pleno e maravilhoso do que aparentemente foi como sendo agora e que me acompanhará graciosamente.

Pupulam e povoam meu suposto silêncio o olhar, o sorriso, o abraço, a voz de quem fala, o exemplo manifesto humanizado de quem É, num único gesto.

Dizer materno como num livro sempre aberto, pronto a uma hermenêutica infindável, cujo pré-conceito, a vitalidade que faz girar o moinho deste reviver como novidade é o amor.

Amor exagerado, escancarado, brilhante e quase ofuscante como lua cheia, reflexo, contudo.

Fostes recolhida pelo que está além das palavras como um presente a quem lhe esperava, como em tantas mudanças que fizemos, enquanto nós ficamos como testemunhas de que não há indiferença ao sermos gravados pela gravidade deste sim espontâneo ao toque divino.

Assim, faceados por tantas palavras, repousamos sobre este pré-conceito que nos marcou e nos vitaliza a olharmos o adiante.

Contra esta suave presença anterior não há lei, nem mesmo a necessidade lhe resiste, e a morte se faz um susto apenas.

Se hoje há choro, pois há memória.

Se hoje há lembranças, fundam-se em gratidão

Se hoje há gratidão esta advém de seu amor reflexo.

Até um dia...todos os dias.