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O otimismo é sagrado

  • Marcos Nicolini
  • Jan 21, 2023
  • 2 min read

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O otimista é alguém que acredita num mundo melhor, progressista: amanhã será melhor do que hoje, assim como hoje é a passagem desde um ontem ainda pior.

Em nome de um mundo melhor sacrifica o mundo atual, sem escusas, vertendo o sangue real em nome de um gozo Real.

Está pronto a destruir tudo, todos, qualquer coisa fundado na certeza que não se faz omeletes sem quebrar ovos.

O progressista, isto é, o otimista, tem ódio do presente, pelo fato, pelo atual.

Sua realidade está dada pelo futuro, pelo por vir, pelo homem novo, pela destruição criativa.

Há um asco pela podridão de morte dado como odor de carne putrefata, de excremento humano, a materialidade do existente.

O otimista não titubeia, usa todos os meios à mão para extinguir a inércia que se recusa a morrer, e verte o sangue que aduba a utopia.

O progressista é um otimista, um otimista é um utopista, a utopia é sagrada pois que segrega o hoje profano do antevisto sacro.

O sagrado é trágico, a tragédia é sacrificial, o sacrifício é assassinato ritual que funda a falácia do movimento da história.


O pessimista é um otimista sem ilusão, anunciando o futuro sombrio, o qual se alimenta da morte, da destruição, da violência sacrificial, que o futuro é sagrado.

O pessimista coloca no altar da história a própria crença na possibilidade de um mundo melhor, habitando o lugar sombrio de quem compreendeu o trabalho da produção distópica.

É alguém com a consciência da sofismática do otimismo.

Descrente se deixa, portanto, paralisar. Nada há a fazer a não ser lamentar, verter o sangue do presente contínuo e degradante.

Recusando-se sacrificar o presente em nome do futuro, sacrifica o presente em nome do desespero.

O presente é sagrado, imolado no altar do presente contínuo.

O pessimista é um otimista que vive o eterno retorno do sagrado sacrificial sem esperança.


O que nos resta?

Nada sacrificar, nada sacralizar, amar como se o ótimo fosse esperança e o péssimo fosse desafio.

Como disse Paulo, estar como se não estivessem, viver o presente como dádiva e o futuro como possibilidade arriscada cheio de inércia

Amar e perdoar, edificar com os elementos do tempo passado.

Querer cada instante até além de removê-los como impróprios aos desafios emergentes.

Abandonar a ilusão de um futuro melhor, desejando-o mais leve e pleno

Olhar o presente como se estivéssemos diante de uma rocha esculpida por Rodin e consumida pelos elementos, diante da qual temos a visão sincrônico e a passagem espacial, e do futuro como se estivéssemos diante da nona de Beethoven numa passagem diacrônico e num espanto do encontro com o inusitado efusivo.

Ter a certeza que o futuro é incerto e posto em aberto, possibilidade desafiadora que não se contém nas ilusões assassina, com a esperança de quem ama profundamente a vida.


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