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O mal radicado: ascetismo sanitário como método político

  • Marcos Nicolini
  • May 28, 2023
  • 2 min read

O igual exige a diferença;

A diferença é a violência como expurgo;

A diferença opera a partir da lógica ascética sanitária, pela imunização e comunização;

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In-munos, seus dois sentidos, diferença e igualdade: expurgo e indiferenciação;

Munos que no latim nos fala de obrigação, dever por conta de uma norma legal ou de um mores, moral, norma social não escrita;

In, do latim, pode ser o que in-clui e o que nega, in-diferente;

Imunizar é excluir todo o que escapa à norma, ao dever, posto que coloca em questão a comunidade;

Mas também é incluir os que à lei e à moral se submetem;

Imunizar é eliminar os elementos nocivos e criar anticorpos numa comunidade de iguais, isto é, um com-munos, um grupo que comunga uma dada ordem, uma lei, uma moral.

Imunizar é excluir, expurgar, eliminar, fazer morrer, também é incluir, comungar, indiferenciar, fazer viver;

A lógica sanitária e a lógica política se encontram na diferença e na repetição;

Na política o poder soberano é aquele que deixa viver e faz morrer: quem deve ser imunizado-diferenciado e quem deve ser imunizado-comunizado.

Para citar o filósofo da différance: “A diferença produz o que proíbe e faz possível a autêntica coisa que a faz impossível.” (segundo citação de John Milbanks em Teologia e Teoria Social, pg. 422)


Na lógica da diferença, primeiro faço transitar o mal que pretendo fazer como o mal moral;

Logo em seguida localizo este mal, que é o meio que meu projeto exige ser implementado, no outro que desejo justificar sua exclusão;

Associo suas ações a um desvio moral, uma falha ética e uma transgressão legal: tudo aquilo que faço e que oculto, enquanto faço sobressair nas ações daqueles que devo expurgar, eliminar, imunizar;

Produzo, artificialmente, esta diferença e sobre o diferente radico o mal que deve ser erradicado a fim de garantir a igualdade;

O ascetismo sanitário é o referencial de uma ação política: lógica do ascetismo imunológico;

A ação política é, desde sempre, necropolítica, isto é, uma política da diferença, da imunidade e da comunidade: a ação violenta por excelência;

A diferença legitima o poder soberano, em nome da comunidade pacificada, a agir com violência – extrema e radical, se ele julgar necessário, fazendo valer o estado de exceção em nome da Sociedade e do Estado – a fim de que o Todo, a comunidade, prevaleça contra os elementos que podem pôr em risco a ordem da sujeição autônoma: munos.

A lógica não é a de agir sobre os efeitos maléficos daqueles que colocam em risco a comunidade, a igualdade, mas a de agir preditivamente sobre a possibilidade de uma ação que possa vir a pôr em risco o projeto da paz dos cemitérios;

A lógica política é a lógica ascética e sanitária, cuja ação visa diferenciar a fim de erradicar, visando a igualdade radical pela produção de uma paz de cemitérios.


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