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Máquina-Mundo

  • Marcos Nicolini
  • Oct 2, 2024
  • 4 min read

“La ‘hipótese de la substituición’ es demasiado simple porque no explica el grado de intensidade de su paisón. Pero qué outra explicación podríamos considerar? Perguntémosle al hombre mismo.

 

“Em realidade, éste nos da uma primera indicación mediante su aspecto, con la expressión de su rosto. Lo que éste trasluce es que refleja no solo las emociones especificas de Monte Carlo, que nos resultam conocidas por los ademanes de todos los jugadores de azar ( por tanto, no sólo rensión y excitación o placer por la tensión y la excitación), sino además rabia y venganza.

 

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“Pero, por qué? Por qué está rabioso el hombre? Contra quién podría estarlo? Y por qué vingativo? Contra quién o por qué querría vengarse?

 

“Demos, al menos heuristicamente, la respuesta que nos sugere la ‘psicología de las cosas’, esa nueva disciplina que hemos reclamado: está rabioso contra las cosas, contra los aparatos. Pero contra quales?” (Günther Anders, La obsolescência del mundo humano (in) La Obsolecencia del hombre, Vol. II, Ed. Pre-Texto, 2011, pgs 67-68)

 

Logo que este livro foi editado eu o comprei. Contudo, tendo lido as primeiras páginas o guardei, digo, o esqueci quase que completamente entre outros livros. Retomei-o e voltei a lê-lo. A cada página liga uma pergunta se repetia: por que larguei a leitura? Para esta insistente pergunta encontro apenas uma resposta provisória: pois não era tempo, não tinha referências que me permitissem chegar a um ajuste interessante. Não obstante, acho que neste esquecimento deixei de esquecer algo que está contido nas primeiras páginas: o homem matéria.

 

Não devo me alongar neste tema pois vale uma arqueologia e uma genealogia (tributárias de Nietzsche e Foucuault) sobre o advento deste homem matéria. Mas, grosso modo, o homem matéria nos faz perceber que o sujeito que marcava a distância dos objetos no mundo percebeu-se um objeto mundano e tornou-se, pela via da técnica, uma matéria-prima tal qual as demais: passa-se da coisa (até mesmo o sujeito seria uma coisa) ao objeto e sobre este impera a utilidade. Se o objeto não é útil, então é coisa a descartar. O homem matéria há de ser útil, senão sobre esta coisa pesa a necessidade do descarte como lixo, ou o esquecimento.

 

Lembrando Freud, pensa que este é o mal-estar que paira sobre o humano moderno, não uma carga civilizacional que o retira de sua passividade natural (digamos assim), mas o mal-estar desta última modernidade (que para alguns deveria ser chamada de pós-modernidade) é a do humano materializado e como tal dispositivado, isto é, um objeto do qual se requer uma utilidade produtiva, que compete como máquina, um objeto técnico.

 

Então cheguei às páginas 66 e 67 deste texto de Günther Anders e me deparei com o mal-estar do jogador. A pergunta que o autor coloca: por que do mal-estar? O que promove o mal-estar? Contra quem se dispõe em mal-estar? Nas palavras dele: Por que a raiva e a vingança? De quem tem raiva?  A quem se volta a vingar-se?

 

Este tema do incômodo profundo também aparece, segundo me lembro, em Nikklas Luhman, quando fala da complexidade da “máquina-mundo” (este termo inventei agora, não se lê neste autor). A impotência e a incapacidade de compreender o funcionamento da sociedade, das relações complexas, dos fluxos e dos arranjos.

 

Aqui me atrevo a aproximar (“afinidades eletivas”? de Max Weber) o jogador que não compreendendo o porquê de nunca ganhar no Cassino e o humano que se percebe enredado num mundo trágico cuja sentido é “ser-para-a-morte” (lembrando Heidegger). O jogador que dizendo para si “eu cumpro as regras do jogo, mas perco sempre” e o humano que se percebe num mundo no qual as opções são livremente escolher a tragédia, ou fingir opor-se à violência trágica e servir de homo saccer (falando de Giorgio Agamben).

 

Diante desta sopa de testemunhas gigantescas aqui elencadas com faltas, que azeitam a máquina-mundo e colaboram com a crença, a qual deve ser a nossa em um mundo trágico, do qual não podemos escapar, enquanto a liberdade se faz como dizer sim a quem nos consome em sacrifícios e dívidas infinitas, atônitos face às linguagens esotéricas e secretas, místicas e sobrenaturais das máquinas que nos governam, sentimo-nos raivosos e com desejo de vingança.

 

É, porém, o desejo a energia desta máquina. Energia esta que não está em Günther Anders, mas em Lacan e em Girard. Enquanto raivosos nos entregamos ao desejo de vingança mais nos enredamos nesta teia infernal cujos movimentos que ali fazemos agitam as máquinas que se apressam a vir a nós e nos sugar até a alma. Nossa obsolescência está exatamente no agir freneticamente, tragicamente, de modo dionisíaco, entregando-nos voluntariamente e factualmente ao mundo máquina.

 

Este misterium tremendum, do mundo-máquina, com sua linguagem esotérica, sua arquitetônica mística se oculta como um Deus abscondido. O deus misterioso se embrenha em nós, queiramos ou não, tornando-nos parte da máquina, máquina per si. Nossa raiva, assim, é a raiva de nós mesmos, enquanto nos vingamos de nós mesmo num movimento suicida. Enquanto o Deus trágico se banqueteia com nosso sangue e se nutre de nosso morte, amém.

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