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Ksenos ou Xenos: somos chamados a sermos amigos idiotes

  • Marcos Nicolini
  • Oct 23, 2022
  • 2 min read

Então decidi rever meus conceitos sobre amizade, sob o enfoque que a amizade é, antes de tudo, apolítica. A amizade em Platão, Aristóteles e Cícero é, antes de tudo, entre aristocratas, entre iguais, enquanto a política é a arte de poder aristocrático exercendo domínio sobre o resto, a parte restante: todo aquele que não tendo quem realize o esforço manual está fadado a manter-se à margem do poder. Na Grécia para cada animal político havia pelo menos 5 animais bípedes implumes sub-humanos. Em Roma esta proporção ainda era maior.

Então decidi reler tudo isto à luz das palavras de Jesus: "não vos chamo de doulos, mas phileus, pois os escravos não sabem o que fazem seus basileus." Pensei num Jesus sob a ótica de Nietzsche e de Dostoiévski, um idiotes, alguém que estabelece relações horizontais apolíticas, fora das estruturas hierárquicas que fundam a política.


Juntei alguns livros já lidos e que estão por aqui: Platão, Aristoteles, Cícero, Agostinho, Aquino, Montaigne, Ortega, Albornoz e Gai, Alberoni, Derrida, Agamben e a Biblia. Mas, devo confessar, há um texto que grita pedindo lembrança, o de Georges Bataille, Discussão sobre o pecado. Não está neste autor, mas naquilo que Satre tentou impedir que eclodisse na discussão: o pecado como o impedimento de ser a si mesmo.


Começando a reler de Francisco Ortega, Genealogias da amizade, já nas primeiras páginas ele me instiga a voltar a Derrida e seu diálogo com Anne Dufourmantelle cujo título é A falar de hospitalidade. A questão do estrangeiro (ksenos ou se preferirem Xenos). O estrangeiro é aquele que reclama a philia, a amizade, enquanto confronta, faz guerra contra a ordem estabelecida, o 'nomos' do hospedeiro.


Então me lembrei de Paulo e de Pedro que em suas respectivas epístolas chama-nos a sermos ksenos (ou Xenos, estrangeiros). Domos estrangeiros e peregrinos, o que implica que nossa presença aqui não é de cidadania contemporânea, mas de questionamento de uma ordem brutal, demoníaca que impede os entes (humanos ou não) de serem.


Vou continuar a ler e ver se isto dá nalguma coisa.

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