Igualdade, diferença e desigualdade
- Marcos Nicolini
- Jan 29, 2017
- 2 min read
Updated: May 28, 2020
Sobre uma coisa é possível que possamos concordar: dadas as condições iguais a um grupo de pessoas, duas coisas poderemos esperar dos seus indivíduos, primeiro, que alguns se destacarão mais do que outros em áreas específicas, segundo, que não teremos certeza

prévia de quem serão estas pessoas, dados seus corpos nus.
Sabemos que num grupo em que os indivíduos têm acesso igual aos recursos, alguns demonstrarão mais talento e alguns se esforçarão e estarão mais dispostos do que outros. Garantidas as condições mínimas de igualdade de acesso e disposição de recursos, as diferenças virão à tona. Contudo, tais diferenças não são determinadas, como que a priori, por características dadas pelo sexo e etnia, ou por condições sociais dadas, por exemplo, pela religião.
Dado um grupo de adolescentes que se inscrevem em uma escolinha de futebol, todos eles estarão submetidos ao mesmo rigor, dos treinamentos técnicos, táticos, físicos, etc. Também, a todos, estarão disponíveis os recursos, como a bola, o campo, os preparadores, a equipe técnica, etc. Ao fim de um período de treinos e habilitações, alguns se destacarão e serão chamados de Pelé, Rivelino, Zico, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Neymar, Marta, etc. Enquanto outros nunca saberemos seus nomes.
Não importa a ideologia que adotemos, cultuaremos nossos ídolos. Marx, Che Guevara, Fidel, Mao, etc. Mas outros preferirão Rockfeller, Gates, Carnegie, etc. Não importa se você gosta de Rosa de Luxemburgo, ou de Margareth Thatcher, ou de Frida ou Curie. Todos os grupos têm seus heróis, seus mitos, aqueles, e aquelas que se destacam. Não importa se o nome é Jesus, Maomé, Buda, etc. Não é uma questão de preferência religiosa, mas de perceber que alguns se destacam, se diferenciam.
A questão, dura para os igualitaristas, é que a questão não é de confronto entre igualdade e diferença. A questão que há de se colocar é a da desigualdade. E aqui está a pedra no sapato dos que pregam a diferença inata a qualquer custo, pois não querem ver que parte das diferenças se dão nas desigualdades iniciais, e não das heranças genéticas. A igualdade deve ser na oferta e disposição dos recursos, a fim de que os talentos e os esforçados se destaquem nas áreas em que seus talentos e esforços serão mais reconhecidos. A oferta igual de recursos deve estar atrelada à liberdade igual para os indivíduos se apropriarem dos bens e traçaram suas biografias.
Como ouvi dizer outro dia: haveremos de garantir a igualdade na oferta e no acesso dos recursos, capacitando cada indivíduo a escolhas livres dos bens na produção de sua biografia. Depois de feito isto, somente depois disto que poderemos dizer se a genética de fato diferencia grupos. Até lá, o que poderemos dizer que investimos na desigualdade crescente e dizemos que isto demonstra as diferenças inatas.



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