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Eschaton

  • Marcos Nicolini
  • Jun 18, 2023
  • 2 min read

Vivemos o tempo do fim!


Mas talvez o fim que hoje antevemos não seja mais o fim crítico, aquele de uma crise que advém do esgotamento do velho e do surgimento, ainda impreciso, do novo.


A crítica, do crítico diante da crise, se esgota face nada que se prenuncia.


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Vivemos o tempo do fim pois o novo não há, o novo é nada.


Nisto diferimos das velhas, gastas, obsoletas, irreplicáveis e inatualizáveis crises do passado: a novidade da crise atual é o esgotamento do passado e a impossibilidade de um novo que é nada.


A própria crise encontrou sua crise dado seu ultrapassamento.


Nada, contudo, que não é o vazio empírico, mas a empiria radical.


A experiência empírica de proliferação, de fragmentação, de diferenciação alucinada do possível até o impossível do ultrapassamento do atômico em sua atomicidade, isto é, indivisibilidade esgotada.


Quando o indivisível se divide, não mais em energia, antes em nadificação.


A fissão da última energia – advinda do elemento mais simples que o hidrogênio e de seus sub-elementos e das partículas sub-elementares que os formariam - realizar o esgotamento de toda energia e decair em nada.


Aqui, então, que devo me voltar, com alguma reverência, a Agostinho de Hipona.


Ele, talvez prenunciando Pico dela Mirandola (“A dignidade do homem”), vai dizer que o humano é aquele momento de decisão. O humano não é nada além da decisão de fé que ele fizer. O humano é crise, é escolha entre duas possibilidades de fé: ser ou nada.


O humano é radicalizar Hamlet, indo além do “ser-ou-não-ser” e escolher entre “ser ou nada”, duas profissões de fé.


A fé precede ou ser ou nada, melhor, há duas profissões de fé.


Fé que ultrapassa o encadeamento dos entes, a experimentação da existência, a apreensão do consciência, o encontro com Ser, Nada e para além do Ser e de Nada, a fé, a esperança e o amor. A fé que vai além da mística renana, de Eckhart e Teresa, quando dizem que Deus é Nada, que vai além dos neoplatônicos os quais dizem que o Ser é transcendido pelo Uno que é Nada, a qual, contudo, se inspira em Tertuliano, quando diz: Credo quia absurdum. A fé que ressignifica e cria mundo: crível, amável e esperançoso.


Fé, como que lembrando Walter Benjamim que diz que a violência pode ser maléfica ou divina, que se detendo nos entes, aprofunda-se na superficialidade da existência material e decai-se degenerativamente como inconsciência autêntica, rompe com a essência e entrega-se tragicamente a nada como lei inexorável do devir fragmentário.


O humano como a consciência de mundo que produz instrumentos que conformam o mundo, para o humano como igualdade no mundo e imanência indiferente e insensível.


O humano que nada é, além de vazio e fragmentação: eis a questão escatológica premente.


Não! Não vivemos um tempo sem fé.


Vivemos um tempo em que a fé impede a fé, como diria João, o apóstolo: ele era um de nós e saiu de nosso meio. A anti-fé que se tem vergonha de si e esconde sob a capa da razão científica de um mundo sem...mundo-nada.


Não há o que lamentar!


Quando no corpo se constatou câncer, demos ao paciente açúcar e colhemos metástase. Hoje resta na metástase um remanescente de corpo. Quem sabe pode do corpo remanescente advir o milagre: só um Deus pode nos salvar, pois onde cresceu o perigo, dai adveio a salvação.

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