Revoluções e conservações
- Marcos Nicolini
- Dec 19, 2016
- 2 min read
Eu não engulo a ideia de revolução. Mas também não consigo acreditar na força da tradição, da conservação.

A revolução é aquela ideia de que as coisas mudam por salto, quando o passado e o futuro se distanciam como que pela abertura de uma fenda crítica, um terremoto. Aquilo que estava ajuntado, torna-se separado, e entre eles abre-se um abismo infinito.
Copérnico é o nome que passaram a dar a este salto qualitativo, que marca a distância do velho e do novo. Copérnico marca a passagem do geocentrismo (a Terra como centro do Universo) para o heliocentrismo (o Sol como centro do Universo). Contudo, esquecem de dizer duas coisas, ou, fingem esquecer duas coisas: o heliocentrismo já era uma hipótese posta na Grécia 1800 anos antes de Copérnico, assim, ele apenas teria atualizado algo muito velho; segundo, que tanto o geocentrismo quanto o heliocentrismo são “centrismos”. Ambos os sistemas fazem o Universo girar em torno de um centro.
Por outro lado a tradição é uma falácia, pois em algum momento o que é tradição foi uma inovação. A família tradicional é, por exemplo, uma produção burguesa. E aqui não vai qualquer demérito à burguesia, antes, pensamos a burguesia como burgo, cidade moderna, organizada não pela tradição medieval, mas pela emergência de uma classe econômica que até então era periférica, subordinada aos nobres e à igreja. A família burguesa, com o pai trabalhando fora, a mãe grávida cuidando da prole e do lar, os filhos estudando, etc., é relativamente recente, e é uma ruptura com a ordem precedente. Se voltarmos para antes da era cristã, veremos a poligamia como possibilidade normativa mesmo no interior de sociedades do Livro, como a dos judeus.
Ambos os modelos buscam, antes, arregimentar nossos ânimos a um projeto que não é o nosso (meu, seu, dela, dele, etc.). Um projeto heterônomo, que hora exige submissão à tirania revolucionária e progressista, hora à tirania conservadora e tradicional. Cooptação, é o que buscam. O que me parece que ocorreu com a maior frequência na história e pré-história foram mudanças e permanências imprevisíveis. Deus de ocorrido, os filósofos e historiadores, mais atualmente os cientistas sociais procuram racionalizar o que não foi racionalizado previamente. As coisas continuam e mudam, e apenas depois alguns olham para trás, com suas ideologias, métodos e necessidades racionais e tentam enjaular aquilo que é livre.



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