A monstruosidade do anti-Cristo: Teologia Política à brasileira
- Marcos Nicolini
- Nov 27, 2020
- 3 min read
Há um campo da produção filosófica dentro da filosofia política que orbita o campo de forças que se pode chamar de Teologia Política.

A Teologia Política é um campo de conhecimento que toma temas da teologia cristã, mormente dos primeiros séculos de nossa era, e os fazem funcionar como política, ao que se pode chamar de secularização.
Um dos temas importantes da teologia cristã é aquele que concerne à Jesus Cristo: suas duas naturezas, Deus-Homem.
Este pensamento teológico secularizado, na política, toma a forma de Estado, do debate sobre o Estado.
O Estado Moderno, basicamente, tem duas naturezas a material e a metafísica.
No campo da metafísica discute-se a legitimidade, a autoridade, a soberania, poder, etc.
No campo da materialidade do Estado, deparamo-nos com o Governo e todos os dispositivos de governabilidade, como por exemplo o direito, as leis.
O Governo, por sua vez é exercido por alguns tipos de agentes (tomamos aqui a referência de tipos ideiais de Max Weber): os tecnocratas e/ou burocratas, os políticos (basicamente cargos eletivos, mas há indicações e outras vias) e alguns tipos mistos como os juízes do STF, os quais são tecnocratas com viés fortemente político.
Em regimes precidencialista, como o nosso, o Presidente é um agente do campo político: representa uma demanda sócio-política da sociedade civil. Neste momento não precisamos discutir os tipos de representação política, mas assumir que um político tem como competência sua capacidade de perceber demandas, imaginar alternativas a tais demandas, produzir um discurso que responda e possa corresponder aos anseios de uma dada parcela da sociedade e garantir com isto votos suficientes para.
Após introduzir estas referências teóricas básicas, podemos pensar em alguns presidentes que tivemos e temos.
Podemos dizer, sem medo de erro extremos, que Bolsonaro, Dilma e outros (aos quais não se inclui Lula, certamente) foram eleitos como Presidentes, mas não são políticos.
Voltando à Teologia Política, poderíamos tomar referência na escatologia cristã e dizer: estão em pé no lugar que não deveriam estar.
Ainda assumindo uma linguagem alegórica, atrevemo-nos a apontar para a função política, presidencial por excelência, como sendo, imageticamente, um vetor, mais propriamente, o desenho de um vetor, cuja figura fornece direção e sentido (uma seta de trânsito, que nos fala do caminho a seguir, mas não a distância até o objetivo), enquanto sua funcionalidade efetiva exige o lado técnico que transcende sua capacidade (a questão dos quantitativos).
Por isso, Bolsonaro fez bem em dizer, ao lhe perguntarem sobre economia, “não entendo nada disto, pergunte ao Guedes.”
Deveria fazer disto um mantra, e sempre quando lhe perguntassem qualquer tema deveria repetir, “sou um ignorante, perguntem a quem sabe o que fala.”
O nosso problema é que este presidente, para nossa infelicidade, não tem competência política e nem técnica, muito menos mista.
Efetivamente é alguém que está num lugar impróprio, digamos, um não político num lugar político.
Bolsonaro e Dilma, fazendo apelo à metafísica do Estado, são entes que corrompem, com suas incompetências políticas, o Estado, a representação política, tendo em vista o modelo de Estado que se funda na Teologia Política apontada acima.
Contudo, há a favor de Bolsonaro o fato que ele assume a incompetência em economia, enquanto nega sua inaptidão, inépcia e incompetência política. Balanço que não se pode fazer em Dilma, a qual não assumia sua monstruosidade, antes, pensava-se como a perfeita união tecno-política singular aos deuses.
Como chegamos a ter agentes anti-políticos como Dilma e Bolsonaro?
Pergunte ao Lula: Dilma e Bolsonaro, guardadas as diferenças infinitesimais, são monstruosidades que emergiram do pântano político resultante da ação movediça e corruptiva de Lula. O resto é história que a História dos intelectuais se negará a contar.



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