Uma conversa com minha filha
- Marcos Nicolini
- May 12, 2022
- 2 min read

- Pai, a vida não tem sentido. É apenas isto, buscar prazer, minimizar a dor.
Eu estava lendo algo, meio absorto com algum outro tema e ela me veio com esta fórmula pronta dos dias atuais. Menina contemporânea.
Tenho lido muito esta ladainha em diversos livros e minha cabeça fica cheia desta fórmula pronta, rasa e inquestionada.
De pronto me virei para ela e respondi: a vida não tem sentido mesmo!
Enquanto em minha mente passavam as imagens de coisas que nos envolvem e que chamamos de vida, ao som do Monty Python (“o sentido da vida”).
A semente cai no solo e se transforma em árvore; a hiena toma da chita a presa que ela cassou e matou para alimentar as crias famintas; o vento sopra movido pela pressão atmosférica; as ondas batem nas pedras duras; as placas tectônicas se movem causando terremotos e tsunamis; o sol surge no horizonte fazendo dia e dando adeus como noite; nele surgem manchas e explodem labaredas; o meteorito varre o céu escuro; o pulsar pulsa; o eléctron aparece e desaparece em seu orbital sem dizer de onde vem e para onde vai; bactérias e vírus se reproduzem exponencialmente; etc. Nada disto tem um sentido em si. Não pretendem nada, apenas reproduzem o que chamamos de vida.
Podemos estar tragicamente presos à este movimento sem sentido, certamente, como niilistas do século XXI. Da gnose neoplatônica que nos torna mais uma matéria formada pela alma do mundo nos reduz ao sem sentido de um mundo sem alma.
Contudo...
Seres conscientes somos.
Quem pode dar sentido à vida, a tudo isto, somos nós.
Tomamos consciência destes fatos e atribuímos um sentido à vida que flui em nós, à nossa existência.
O que é a vida? Perguntou Schrödinger. A constante luta contra a entropia, ainda insistindo no sentido da vida.
Partículas sub-atômicas formam átomos; átomos se associam em moléculas...salto incompreensível...estas formam células com códigos internos que tornam o inorgânico em biológico, vital...salto misterioso...material biológico complexo se torna consciente, busca significados, procura dar sentido.
O animal de sentidos tem assassinado o sentido na imanência material, reduzindo a si em matéria inorgânica bruta.
Daquele que dizia “Eureka!”, agora se houve “heurística”, que reduz tudo ao material, ao calculável, ao físico-químico, ao disponível ao consumo objetal pela olhar assassino da redução. Saímos do Cosmos que repousava na transcendência e fomos precipitados ao Universo limitado da ciência moderna.
O sentido da vida, da existência foi assassinado com Deus.
Nós somos desafiados a transcender a norma e dar sentido, escapando da tragédia e reencontrando o drama de viver: viver para...



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