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Terceiro dia.

  • Marcos Nicolini
  • Apr 4, 2021
  • 2 min read

Nestes dias me deixei levar ao vento, como um pequeno barco no mais interior do oceano infinito profundo.

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No primeiro dia deparei-me com a violência da Cruz, lugar onde o Amor é mais forte que morte e, portanto, o lugar onde o Amor mata a separação.

Isto é muito maior do que eu.

Amedrontado, acovardado me escondi, temi que a violência me desejasse o mesmo fim desde quando me perguntou: você em um desses que anda ao redor do Amor, com Ele festeja e com Ele reparte aquilo que deveria ser negociado, vendido, feito dívida. Este Amor a ninguém torna escravo por dívida e se há dívida é divida de amor comum. As palavras não traduzem o amor.

O Amor me escapa a toda apreensão, compreensão, entendimento.

Como pode ser verdade que o Amor vença a morte?

Sem compreender tal absurdo, fechei-me em esconderijos.

Soube, contudo, que o véu da separação foi rasgado desde o céu até a terra. E o Amor que estava contido, restrito, escondido e limitado, agora se espalharia. O Amor não é sagrado, não tem interditos e a ninguém interdita. O Amor é um ide.

No segundo dia, sem força e sem saber, ouvi de Deus estar separado do próprio Deus: Eli, Eli, lamá sabactani. Para onde me dirigiria? De quem ouviria as palavras que conduzem à vida? Poderia viver sem esta unidade que transcende o tempo e o espaço?

O absurdo da fé me tomou pelas mãos e me levou à experiência abissal, lá onde o Espírito paira desde antes do tempo e das coisas.

Chamei de experiência mística a fé que rompe com as evidências, as contingências, os fatos, as razões, as lógicas, as sensações e os sentidos.

Assim como Ele em amor se entregou à morte e à separação, como quem não encontra em si os recursos e energias para dizer sim ou não, busquei seguir o Amor em confiança.

A fé absurda de quem se deixa conduzir a andar sobre o abismo, Nada.

Neste dia, ter fé no Amor e deixar-se conduzir a Nada: silêncio, separação, ausência...

O Nada me traz a certeza na espera.

A espera que diante de Nada, na encruzilhada entre a morte e o Amor, este me resgate.

Assim o Sol do terceiro dia se levanta e a espera ressuscita como Esperança. Mas para quem morreu como Amor e experienciou a certeza que Nada não pode nos separar deste Amor, a esperança não é espera no tempo pelas coisas que se vão com o tempo, mas espera por um tempo sem tempo, que não se antevê por por palavras, mas ama e crê e espera. Este ainda é o primeiro momento do terceiro dia.

Ainda tenho que andar com Ele, comer com Ele e esperar até que Ele me pergunte: tu me ágape?

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