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Paleontologia da violência contemporânea

  • Marcos Nicolini
  • Apr 16, 2023
  • 3 min read

Outro dia ouvi o Dino-Sauro-Phoda declarar algo que apenas se diz à boca pequena (algo que não pode ser atribuído a este ser ancestral). Os Dino-sauropodos ainda falam hoje? Pensei que estavam extintos desde a queda do muro de Berlin, ops. ... meteoro do fim dos tempos. Mas, podemos constatar que ainda vagam por aí em forma de galo-de-briga, em rinhas políticas, com o cacetete na mão. O que nos permite ratificar que a violência não depende da pata, mas do acesso aos dispositivos e instrumentos do mal.



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O que declarou em voz midiática esta espécie museológica? “O Estado detém o monopólio do uso legítimo da violência”. Embora, salvo engano, Max Weber tenha dito que é o uso da violência legítima, o que faz uma brutal e violenta diferença. Pois o Estado (esta ficção moderna, este mito obscurantista criado por alguma mente doentia e crente, ao fim da Renascença e que se mantém apenas porque está assentado sobre baionetas e canetas) não tem a legítima para uso de violência, mas pode usar de violência se este ato pontual for legitimado. Caso contrário, estaremos diante do Estado Terrorista, típico das sociedades totalitárias que deveriam estar extintas desde a queda do meteoro, ops, do Muro de Berlin do fim da História. Mas, mantendo-nos estritamente em Weber (ainda de memória), lembro-me que este sociólogo disse que o Estado, empreendimento humano, detém o uso da violência, desde que legitimada.


Isto quer dizer que o Leviatã, este demônio em forma de Ordenamento (como se o inferno fosse ordenável, ainda que na peça paradisíaca de Milton o fosse) deve estar sujeito às constrições e não pode ir além dos limites que lhe forem permitidos no desenho deste empreendimento humano. Indo mais além de Bodin e Hobbes, percebemos que a soberania não é do Estado, do Leviatã, de Satanás, mas este monstro deve estar sob os limites da legitimidade da Sociedade: esta divindade espinozista com caráter humano. O Estado não é um ente aparte à Sociedade (outro mito criado para descrever, de forma espinozista, o Todo das relações humanas), mas um subconjunto dela (estamos falando de Sociedade avant la lettre, antes dos sociólogos, isto é, o conjunto das relações entre indivíduos, grupos e instituições que determinam as leis). A Sociedade deve dizer ao Estado os limites de ação que ela entende como legítimos, portanto, deve autorizar o Estado e definir seus campos de ação.


Claro que podemos ir além de John Locke, Rousseau (aqui penso na Vontade Geral que institui e determina os limites de ação do Estado) e Montesquieu e nos depararmos com Hegel, o qual propõe uma Sociedade tutelada pelo Estado. Nele o Estado é a Razão de ser da Sociedade (a parte material, laboriosa). É este giro infernal que promoveu o retorno dos dinossauros, como se estivéssemos num filme de Spielberg. O DNA totalitário de Hobbes foi reimplantado por Hegel e ressurge como Satanás solto da prisão que havia sido posto cativo sob as barras da lei do deus Sociedade.


Daí que surgem os demônios, advindos deste inferno das letras. A engenharia genética introduzida pela caneta de Hegel produz as trevas do marxismo e do nazismo (gêmeos siameses que compartilham de um único e mesmo cérebro), de onde se produz, laboratorialmente Dino-sauro-phodo: este nazi-comunista. Este filhote do século XIX e que se realizou, hegelianamente falando, na primeira metade do século XX, surge extemporaneamente aqui no Brasil, no século XXI, em forma de um paleonto-ser. Esta catástrofe serôdia que se levanta no horizonte de possibilidades nefastas, como um Angelus Novus de Klee.


Este ser obscuro não precisava de legitimação para sua violência, pois tal já lhe foi dada como registro ad hoc em sua estrutura de reprodução de crenças heterônomas, imputadas em suas sinapses acadêmicas. O que lhe faltava era acesso aos instrumentos de violência e a máscara do poder que lhe esconde como a face do terror total. Coisas que lhe foram dadas por uma pseudo-legitimação eleitoral e um cargo que o oculta sob esta crosta de desconstrução intelectual.


Como disse Hölderlin: “só um deus poderá nos salvar” de Dino-sauro-phodos e suas alucinações legitimadoras.

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