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Entre a cruz e Nada

  • Marcos Nicolini
  • Apr 3, 2021
  • 2 min read

Hoje é um dia místico.

Um dia para pensar a possibilidade mística.

Melhor ainda, para a experiência mística.

Como tal, para a testemunha mística.


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O místico é aquele que não apenas compreende: saber, conhecer, compreender não é um ato testemunhal, mas cognoscente, objetivante. O místico se lança na experimentação, no ir logo além limite mais externo de sua externalização. O místico vai até o limite mais um infinitésimo do racional, do controle, do sensível, do material.


O místico nada contempla, nada objetiva, nada percebe. Antes, experimenta o limiar e mais um infinitésimo além da contemplação, da objetividade, da sensibilidade e da percepção.


O místico compreendeu que o absurdo do mundo exige dele quer a total submissão à tragédia, quer a ruptura com o absurdo em prol de outro absurdo: seu testemunho, que em grego se diz martyr.


Se ontem ficou atordoado pela relação absurda que de um lado expôs a violência das relações sacrificiais e sagradas, e de outro expôs o amor que se coloca na posição mais abjeta por conta da proposição - o amor é mais forte que a morte, o amor mata a morte. Hoje está diante da decisão.


Se ontem ficou atordoado, hoje, este mesmo se vê diante da escolha quer pela violência sagrada, trágica que exige redução de si diante da necessidade material, quer pela experiência testemunhal que se inicia com uma decisão absurda pelo caminho até o limite exterior de si, seja lá isto o que for.


Hoje, para este, começou com o sol deixando de brilhar. O Sol, que se confunde com a luz. Luz e Sol que em línguas esquecidas dizia-se “dia”, que então se passou a chamar “deus”. Deus, o dia, a Luz. Aquele hoje místico começa com a morte de Deus e a escuridão do dia que se faz trevas.


Deus, a unidade radical e absoluta que se separa de si, quando Cristo expirando diz: Eli, Eli, lamá sabactani, Deus meu, Deus meu, por que te separaste de mim?


A morte radical de Deus na separação de Si mesmo; a morte da Luz, do Dia, de Deus.


O místico testemunha este vazio radical do Dia que se faz Trevas: o nada.


O místico pergunta: Eli, Eli, por que nada e não o existente? Desta questão mística se lança no absurdo da experiência testemunhal.


O místico é testemunha da experiência extrema no hoje em que o Dia se faz Trevas, que Deus morre e desce ao inferno, que Nada é o infinitésimo abissal deste caminho absurdo que se há de fazer.


O místico se deixa tomar pela experiência abissal e se deixar conduzir num caminho percorrido pelo Espírito.

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