Efrata
- Marcos Nicolini
- Dec 25, 2022
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Sim,
saltei e permaneço ali.
Saltitante.
Se é que posso cartografá-lo; se é que o tempo flui.
Saltei como que ouvindo uma criança recém-nascida lançar algum chamado qualquer.
Em noite de estrela única, o convite fez-me nascituro.
Não me desloquei, contudo, para a proveniência do som.
Não havia som, mas o convite suave, inaudível, irrecusável
Não fui: transpus (talvez seja a melhor tradução).
Contínuo a buscar pelo que me encontrou, chamou, acolheu
Ah! A kenosis transcende minha razão,
assim como um peregrino que tocando a porta
num convite a entrar,
ensina-me uma palavra nova que completa e dá sentido ao meu falar.
Acolho, hospedo e lhe chamo de meu amigo,
sem, entretanto, entender seus modos.
Pensamentos surgem como um suave piscar de algo,
como quando a mulher amada me toca suave e carinhosamente.
Sim, fui de súbito, perplexo, arrebatado,
como quando a mulher disse sim ao incompreensível do acolher o menino.
Quisera eu ter algum incenso ou ouro para lhe dar.
Que faria este recém-nascido com uma matéria sem profundidade?
Saldaria a dívida impagável, saciaria a fome, cobriria o nu.
Dou-lhe meu querer sim, a este pequeno estrangeiro
cuja fragilidade forte me lança em metanoia.
Dou-lhe meu gaguejar titubeante,
confiadamente, como a criança que salta nos braços do pai.
Fecho meus olhos e salto.
Permaneço saltitante, aprendendo a falar a língua que me arrebata.
Sujando os pés enquanto danço a melodia peregrina,
tendo nas mãos um copo d’água feito vinho bom.
Sentado à mesa entre estrangeiros,
repartimos o nascimento escandaloso e louco do sim.
Repartimos o nascimento que nos renasce sim.



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