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...dai a Deus o que é de Deus.

  • Marcos Nicolini
  • Nov 20, 2020
  • 3 min read

No mais das vezes não conseguimos dizer o que é das coisas. Ficamos, assim, no que não é. Poderíamos cair na tentação de dizer que a quesito é apofática, mas prefiro dizer que o martírio é apofático. Vamos em frente.


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Para não cairmos na tentação (a segunda de três) de dizermos o que é o cristianismo, podemos dizer o que não é, assim, dizermos, aquilo ali não é isto aqui.


Assim, lembro-me de algumas palavras de Jesus.


Certa vez um jovem endinheirado foi até ele e lhe perguntou: como faço para o seguir. Antes tivesse ficado com a boca fechada. Então, ouviu do Rabi: vai, vende tudo o que tens e me siga. Se ferrou, mano. Saiu cabisbaixo e voltou a seus negócios.


Outra vez, reunido com seus discípulos (vida nada fácil deste caras), em meio a uma discussão que envolvia hierarquia, digamos, eclesiástica do tipo estatal, civil, ouviram dele: entre os poderes civis há os que comandam e os que obedecem )a velha ideia política que estabelece a relação de dominação), mas entre vós não é assim...Frustração geral. Os caras já estavam se vendo em Roma, no Vaticano, em prédios cheios de mármores e entre obras de artes dos gênios da humanidade. Enfim...


Estas palavras de Jesus reverberaram por alguns anos. Poucos, se comparados com os quase dois séculos desde sua morte.


Nas comunidades do primeiro século, segundo os relatos do Novo Testamento, a avareza e a falta de misericórdia para com o necessitado era um erro enorme. Estas pessoas eram excluídas de algumas maneiras, entre elas pela morte. Os mais vulneráveis e os que viviam em condições mais precárias tinham assistência dos mais abastados. Socorrer ao necessitado fazia parte do credo prático daqueles seguidores de Jesus. No Atos dos Apóstolos, nas cartas de Paulo, Pedro e Tiago, podemos ter testemunho (mártir) desta disposição prática.


Também podemos ver o eco do distanciamento do poder civil, como tido como instrumento do Anti-Cristo, da Besta e que fala em nome do falso profeta, que é o Estado. Nos séculos II e III, os cristão foram perseguidos por serem ímpios. O que era a impiedade? Não adorarem aos deuses dos antepassados, não respeitarem as leis e não se aderirem à cultura comum. Os cristãos eram chamados de ateus, por conta disto. Chamam Jesus de Kurios Kristos, relegando o poder civil a uma instância secundária. O Estado foi chamado por Paulo de Kathekon, isto é, uma figura demoníaca que estando à serviço temporal de Deus, impede que o mau radical se revele e instale.


Quase dois milênios depois vemos nas igrejas cristãs constructos, elaborações mentais que buscam reler estas coisas e se colocarem exatamente no lugar onde Jesus Cristo disse para não estar. Lembra-me aquele início de Mateus 24: quando virem no meio da igreja um discurso que se faz passar como sendo o meu discurso, mas que de fato é o discurso satânico, então, ponham as barbas de molho...


Hoje o palanque dos templos são tomados por aqueles que se colocando em nome de Cristo, ou até mesmo com certa igualdade com o Cristo dizem: prosperidade, prosperidade. Deem 100 e recebem 1000; deem 1000 e recebam 100.000; deem 100.000 e recebam 100.000.000; etc. É Mamon se passando por anjo de luz. É o neoliberalismo econômico como doutrina da Igeja.


Também, nas escolas de teologia, nos grupos de estudo, nos ajuntamentos sombrios há os que se revestindo com a pele de cordeiros, cobrem o lobo carniceiro que há em si. Dizem: liberdade e igualdade. Ocultando o dizer: sangue dos inimigos e sacrifício dos crédulos. Falam em nome da viúva, e ao órfão convencem-no em lutar, combater, guerrear. Passando-se por bom e misericordioso, escondem as garras e a foice com que vai ceifar os rebeldes.


A Igreja ao se assentar à mesa com Adan Smith e Karl Marx, como a esquerda e com a direita, apenas o faz como o salmista antevê no Salmo 24. As duas faces de Cesar, como a de um Janus, tem bocas famintas e insaciáveis. Seus discursos sedutores são como os convites de programas sexuais com corpos contaminados por DST: a beleza estética e o prazer prometido escondem o cheiro da morte.


Sempre nos há de voltar a pergunta: haverá fé na terra?

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