A monstruosidade do amigo
- Marcos Nicolini
- Oct 9, 2022
- 1 min read

Meu amigo
Encontrei-lhe numa rua
Que não aquela por onde caminho,
a dar passos em outra direção,
a espaços que não habito,
em obscuridades de me dar medo.
Solidão compartilhada.
Atrevi-me a perguntar-lhe
o que fazia na noite tão densa.
Relutou, contudo, em me dizer oi,
pois eu vagava por lugares diferentes:
Na minha noite,
no meu medo,
na minha solidão.
Mas eu disse oi;
você, silêncio.
Novamente e pela primeira vez
deu de costas e vi
por fim,
Seu vulto como um fantasma,
que não me assombra,
enquanto cai,
inexoravelmente,
assim, no abismo.
Tudo bem que tu,
que chamo de amigo,
popule apenas aquelas ruas
ande em suas trevas.
Mas a solidão podemos compartilhar,
Com o que confrontamos,
defronte do outro,
Num aceno.
Ah!
Há a esperança de que
o amigo se faça na diferença,
na liberdade amorosa de deixar ser
pelo tempo de ser si mesmo.
Não querer a identidade de almas.
Violência da unidade.
homogêneo desfazer-se,
cada qual num ideal
obtuso obituário,
de um fechar-se narcísico da morte.
Amigo, não quero ver em teus olhos
o espelho
extenso,
ensimesmado,
de meu fantasma.
Ilusão.
Antes,
a feia imagem
do belo monstro
que cada qual é.
Que na próxima esquina
Nos abracemos



Comments